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Monitoramento de longa duração das comunidades recifais das ilhas oceânicas brasileiras (2013 – 2016)
MCTI/CNPq/FAPs nº 34/2012 – Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração - PELD

Os efeitos das interferências humanas nos sistemas naturais são geralmente de desenvolvimento lento, tornando-os difíceis de
identificação e solução sem uma base apropriada de observações a longo prazo. Nesse contexto, as mudanças históricas fornecem
informações chave na compreensão dos eventos presentes, de modo a antecipar padrões futuros. Visto que muitas mudanças
ecológicas possuem escalas que excedem as expectativas de vida humana, o monitoramento a longo prazo se torna essencial para
identificar e diferenciar os efeitos de impactos naturais e antropogênicos.

Os impactos antropogênicos em todo o globo, tanto em ambientes terrestres quanto aquáticos, têm causado perdas substanciais em
diferentes níveis de biodiversidade. Sabendo que grande parte dessa biodiversidade tem relações intrínsecas com o funcionamento
dos sistemas naturais, perdas acentuadas na qualidade e quantidade dos serviços ecossistêmicos providos aos seres humanos têm
sido reportadas. Na busca de sistemas prístinos, as ilhas oceânicas se destacam por apresentarem comparativamente os melhores
indicativos de cadeias tróficas intactas quando comparado aos ecossistemas costeiros. Os fatores que contribuem para tal padrão no
caso das ilhas oceânicas brasileiras são: o isolamento, a densidade populacional reduzida e algum nível de proteção (Tabela-1).

Deste modo, as ilhas constituem um cenário único para serem caracterizadas como um sítio de monitoramento a longo prazo
sustentando comunidades preservadas e alta taxa de endemismo. Por não apresentarem os típicos impactos causados pela
urbanização crescente na zona costeira, torna-se possível identificar com segurança as devidas fontes de impactos (como a
sobrepesca), e as consequências diretas no sistema. Tal indicação é de difícil precisão na costa onde o sinergismo de distúrbios não
permite isolar cada processo. Ainda, estando as ilhas sobre controle do ICMBio, com algum status de proteção (Fernando de Noronha
= Parque Nacional; Atol das Rocas = Reserva Biológica), ou com programas de pesquisa continuada com o apoio logístico da Marinha
do Brasil e financiamento do CNPQ (ASPSP e Trindade), regras de manejo e conservação podem ser mais eficientemente
implantadas sem gerar conflitos com os diversos grupos de usuários das áreas, situação também comum quando se trata dos
sistemas costeiros onde 50% da população se acumula. Todas essas características associadas ou não garantem, por exemplo, no
caso de peixes recifais, uma maior biomassa comparativa a outros pontos da costa (Fig. 1 A). Apesar disso, trabalhos recentes
indicam que a sobrepesca tem modificado as cadeias tróficas em todas as ilhas brasileiras, com o Atol das Rocas se destacando
como mais preservado e apresentando maior biomassa de peixes de topo da cadeia (Fig. 1 B).

Figura-1 Comparação da biomassa total de peixes e biomassa de peixes macrocarnívoros maiores que 45 cm = aos peixes de topo da
cadeia trófica. Os pontos nos mapas incluem a faixa subtropical, tropical e ilhas da costa brasileira. (SC = Santa Catarina; LJ = Laje de
Santos; IG = Ilha Grande; AC = Arraial do Cabo; GU = Guarapari; AB = Abrolhos; AS = Salvador; RN= Rio Grande do Norte; TR= Trindade;
FN = Fernando de Noronha; RO = Atol das Rocas; SP = Arquipélago de São Pedro e São Paulo).
Os componentes bióticos a serem monitorados incluem compartimentos do plâncton, bentos e nécton, juntamente com fatores
oceanográficos. Esses componentes se integram de modo a incluir os melhores indicadores frente aos impactos antropogênicos, já
identificados para as ilhas oceânicas, bem como possíveis mudanças globais.

CNPq