Entrevista com o biólogo Ronaldo Francini-Filho sobre leilão de petróleo na
região de Abrolhos
A decisão do Presidente do Ibama, Eduardo Fortunato, de leiloar regiões próximas do Parque Nacional de
Abrolhosfoi um choque para toda a comunidade. Ao contrariar orientação de sua própria unidade técnica o
presidente põe em risco a recife de maior biodiversidade do Atlântico Sul.
A equipe LECAR, preocupada com a situação atual, entrevistou o pesquisador Ronaldo Francini-Filho, doutor em
zoologia pela USP, que possui diversos trabalhos em Abrolhos.
A partir de todas as suas pesquisas e todos os trabalhos feitos em Abrolhos (Bahia), de modo geral qual a
importância desse sistema recifal quanto a riqueza natural e valor científico?
Abrolhos abarca os mais extensos e ricos recifes de corais no Atlântico sul, além do maior banco de rodolitos do
mundo (algas calcárias de vida livre) e a principal área de reprodução da baleia-jubarte no Atlântico. A região
fornece ainda emprego e renda para milhares de pessoas, através da pesca artesanal e turismo.
Visto a notícia publicada pelo Jornal Estadão sobre a liberação para o leilão de áreas de exploração de petróleo
próximas à abrolhos, quais as consequências de uma possível exploração petrolífera próxima a esse sistema
recifal?
Os blocos liberados para leilão (Camamu-Almada) estão ao norte do Banco dos Abrolhos. Em caso de vazamento,
o óleo poderia atingir a porção norte do Banco dos Abrolhos, onde está a Reserva Extrativista Marinha de
Corumbau (primeira RESEX com recifes de corais no Brasil) e o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, além de
diversos outros recifes desprotegidos. Os efeitos do contato com a biota e acumulação de óleo no mar seriam
catastróficos. Importante lembrar aqui que o uso de dispersantes de óleo é uma das principais estratégias de
mitigação de vazamentos de petróleo no Brasil e no mundo. No entanto, já sabemos que estes dispersantes
são letais para larvas de corais e diversos outros organismos marinhos. A exploração de óleo na região pode
trazer outros efeitos deletérios, como aumento de infraestrutura portuária e no tráfego de embarcações. Outro
impacto potencial é a introdução de espécies invasoras. As plataformas de petróleo são reconhecidas como
vetores do coral-sol, espécie invasora agressiva que prejudica corais nativos e que invadiram quase toda a costa
central e sul do Brasil, exceto Abrolhos.
Você poderia fazer um panorama da dimensão do problema?
Estamos falando de uma potencial degradação em larga escala do complexo de recifes de corais mais
importantes do Atlântico Sul, o qual abarca espécies únicas. Seria uma perda inestimável.
Quais as consequências a longo prazo dessa exploração?
O tráfego de embarcações, aumento da infra-estrutura portuária e introdução do coral-sol poderiam causar
degradação dos ecossistemas e afetar a pesca e turismo da região, com plausíveis impactos econômicos.
Quais são as possíveis soluções para evitar que esse sistema seja afetado?
A principal solução seria evitar a exploração nas imediações de Abrolhos, uma vez que os impactos crônicos
(tráfego marinho, introdução de espécies invasoras) são inevitáveis e as as medidas mitigatórias em caso de
vazamento são ineficazes.
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